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O que se espera de um(a) Language Lead e o que Language Leads esperam de você

 

Por Mariana Ciocca Alves Passos (ServiceNow)

Minha carreira de tradução começou como tradutora autônoma inglês-português ainda durante a faculdade. A flexibilidade da vida de freelancer foi essencial para os meus primeiros anos, já que também foi quando minha família começou a crescer. Quando me ofereceram a vaga de Language Lead na ServiceNow em 2021, eu até hesitei porque não queria perder essa flexibilidade. Mas, acabei vendo esse trabalho como uma ótima oportunidade de entender como funcionava a tradução do outro lado da cadeia de localização.

Quando digo que “me ofereceram a vaga”, parece que foi uma coisa fácil, mas creio que foi uma combinação de fatores que me ajudaram a conseguir o emprego. Por isso, queria falar sobre a minha transição de tradutora autônoma para Language Lead em uma empresa de software. Também vou dar algumas dicas do que uma empresa como a minha espera dos nossos parceiros de tradução.

 O que é um(a) Language Lead?

O fluxo de trabalho e as obrigações de quem trabalha como Language Lead podem variar muito. Dentro de agência de tradução, as responsabilidades talvez sejam diferentes das que eu tenho como cliente final. Em geral, é a pessoa encarregada de tudo o que tem a ver com aquela língua. Na empresa onde trabalho, eu gerencio o glossário (não só do português brasileiro), o guia de estilo de localização, as avaliações de qualidade, participo de reuniões com as agências que traduzem, revisam e testam os nossos materiais e presto consultoria internamente para iniciativas de tradução que não passam diretamente pelo Departamento de Internacionalização. Cada empresa tem sua área específica do negócio, então eu tive que aprender o que a empresa faz, a mexer na plataforma que vendemos e como funciona a internacionalização e localização dentro da ServiceNow.

 O que me ajudou nessa função?

Como tradutora, eu só tinha que entregar o material traduzido dentro do prazo. Conhecimento linguístico, todo mundo que trabalha com tradução precisa ter. Quando comecei a trabalhar como revisora, desenvolvi a habilidade de justificar minhas escolhas: não bastava só apontar o que estava errado, tinha que explicar o motivo. Essa habilidade é essencial para o meu trabalho e ela não aparece da noite para o dia: vem de anos de experiência. Hoje, ainda tenho que explicar para a minha gerência por que devemos corrigir uma tradução em toda a memória de tradução (que contém seis milhões de palavras), pensando também se o custo e o esforço em horas cabem no nosso orçamento e no cronograma do produto.

A capacidade de comunicação com públicos diferentes também é importantíssima. A empresa tem 22 mil funcionários. Nossos programadores não entendem a complexidade do fluxo de localização da empresa. As agências que traduzem e testam o nosso software não entendem a complexidade do nosso processo de desenvolvimento do produto. E eu estou ali no meio, muitas vezes tendo que explicar um lado para o outro sem usar jargões ou terminologia específica. É difícil falar de tradução sem falar de TMS, CAT tool, TM!

Um diferencial para mim foi ter experiência com teste de software/aplicativos para celular. Quando comecei o trabalho voluntário para o YouVersion (app da Bíblia), achei que não aprenderia nada novo. Também não era um requisito para a vaga de Language Lead, mas hoje eu uso essa habilidade toda semana na ServiceNow. Trabalho voluntário é uma ótima forma de conhecer outras áreas da localização.

 O que esperamos dos parceiros de tradução?

Nem todo cliente final tem um departamento dedicado à localização. Outras empresas talvez entreguem todos os passos do processo para agências e parceiros de tradução: extração do texto, criação de projetos no sistema, gestão dos projetos, tradução, revisão, inclusão do texto traduzido no código do produto, teste linguístico na interface traduzida e correção de erros.

Na ServiceNow, precisamos de tradução, revisão e teste linguístico, porque temos uma equipe que cuida de toda a parte de engenharia de localização. Oferecemos nosso produto em 24 idiomas, então preferimos lidar com empresas de tradução que ofereçam mais (ou todos os) idiomas.

Tradução correta é a expectativa de todo cliente. Entendemos que, com a complexidade do nosso produto, nem tudo sai certo da primeira vez. Mas, quando algo sai errado, esperamos maturidade para reconhecer erros e corrigi-los. Prazo é muito importante para nós, porque a localização está presa no ciclo de desenvolvimento do produto. Atenção a instruções é essencial. Se as instruções não foram claras, façam perguntas para esclarecer. Isso vale para todos os níveis de comunicação: entre a minha equipe e os gerentes de projeto da agência, entre Language Leads (eu e a da agência), entre gerentes de projeto da agência e tradutores etc.

 Nem todo tradutor freelancer quer entrar para o mundo corporativo da tradução e localização. Eu tentei aproveitar todas as oportunidades para explorar áreas e serviços diferentes dentro da área de tradução e localização quando ainda era freelancer. Essas experiências pareciam pequenas na época, mas me ajudaram a ter uma caixa repleta de ferramentas quando me ofereceram esse trabalho de Language Lead. Saber como funciona o processo na perspectiva do tradutor também me ajuda hoje. Meu conselho é sempre tentar coisas novas e continuar refinando o conhecimento e as aptidões que você já tem. Conhecimento linguístico, boa comunicação e gestão das suas tarefas são habilidades que sempre serão relevantes tanto do lado de quem oferece o serviço (tradutores, revisores e agências) quanto de quem compra (cliente final).

 
 
 

Formada em Letras (português e inglês) pela USP, Mariana Ciocca Alves Passos começou sua carreira de tradução ainda na faculdade. Ela mora na Irlanda desde 2010 com o marido e as três filhas. Depois de mais de 10 anos trabalhando como tradutora e revisora freelancer, ela agora é Language Lead na ServiceNow, uma empresa de PaaS (Platform as Service). Ela também é integrante do Comitê Executivo da Associação Irlandesa de Tradutores e Intérpretes (Irish Translators’ and Interpreters’ Association – ITIA).