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BLISS Talk

Associações e academia

Por: William Cassemiro — Translators101

A importância de termos uma associação brasileira de agências de tradução vai muito além de unir as empresas para ganhar força em negociações ou ajudar na implementação de padrões e normas para a comunidade. Associações ajudam a criar o senso de pertencimento, de força de uma categoria e podem colaborar muito na melhoria de um setor. O artigo de Paulo Guimarães é muito melhor que este simples parágrafo para entender “O poder das associações”, e você pode acessá-lo aqui.

Um ponto ainda pouco citado na importância que têm as associações, que está na página inicial da BLISS, e que sempre chama minha atenção é a aproximação entre mercado e academia:

“Na esfera acadêmica, a associação trabalhará para o desenvolvimento de currículos que estejam em sintonia com as necessidades do mercado.”

Desde o início de minha carreira, a academia e o conhecimento formal e estruturado fizeram toda a diferença em minha vida. O resultado proporcionado pela vontade e os esforços para aplicar empiricamente as teorias e ensinamentos da época de graduação, tanto de minha parte quanto de colegas de profissão, não me deixam dúvidas de que o caminho para o sucesso é bastante facilitado para quem busca conciliar estas duas vertentes de conhecimento: a teórica e a prática.

Há, porém, um grande problema: as teorias e as práticas de mercado nem sempre dialogam de forma clara e, principalmente, síncrona.

A academia, por si só, nem sempre consegue oferecer aos novos profissionais tudo o que o mercado exigirá para que tenham sucesso. É compreensível: o dinamismo com que o mercado se atualiza exigiria da academia uma agilidade, a meu ver, incompatível com os modelos um tanto rígidos historicamente adotados na educação. Não, a ideia aqui não é criticar a academia, que considero fundamental para nosso desenvolvimento como profissionais das Letras, mas sim chamar a atenção para a importância de uma associação como a BLISS e outras para ajudar nesta caminhada de formação acadêmica de tradutoras e tradutores profissionais com o conhecimento que o mercado exige.

Quando estive à frente da Abrates, buscamos a aproximação com a Abrapt, a associação que reúne profissionais da pesquisa de tradução, em sua maioria professores universitários. Juntas, as duas instituições conseguiram iniciar algumas colaborações, como as participações de suas respectivas diretorias nos eventos ENTRAD e Congresso da Abrates.

Vejo agora, com o surgimento da BLISS, uma ampliação importante nas possibilidades de interação entre mercado e academia.

Mas o que podem as associações oferecer aos currículos e grades acadêmicas? Muito. E não estou falando apenas de repassar à academia especificações sobre as necessidades do mercado para que atualizem os currículos dos cursos, mas também, e principalmente, de serem fontes riquíssimas de dados que podem ajudar a pesquisa acadêmica na melhoria de práticas e entendimentos sobre a tradução, afinal, qual pesquisador não adoraria ter facilitado seu acesso a dados, materiais e profissionais da área pesquisada? Este pode ser o caminho para uma maior integração e aproveitamento de pesquisas e conhecimentos empíricos de nossa área.

Obviamente, no caso das agências associadas à BLISS, materiais sensíveis, protegidos por acordos de não divulgação, não podem ser disponibilizados, mas há, ainda assim, uma enorme quantidade de informações esperando para serem sistematizadas e estudadas por acadêmicos e que podem nos trazer conhecimentos valiosos sobre o traduzir. Entre tantas possibilidades, por exemplo, vejo um estudo sobre a “distância de edição”, que pode ser usada para avaliar a qualidade de sistemas de tradução automática, os tipos e as diferentes alterações feitas na revisão de textos traduzidos por humanos e por máquinas, a produção de glossários confiáveis usando memórias de materiais já traduzidos. Enfim, as possibilidades são realmente enormes.

Além de parabenizar todas as pessoas que se doam em diretorias de associações, quero deixar a certeza de que a BLISS, sob a regência de Paulo Guimarães, a Abrapt, com a Profª. Dra. Rozane Rebechi, e a Abrates, com Bruno Murtinho, encontrarão formas eficientes para agirem com sinergia e trarão ótimos frutos para todas as pessoas envolvidas em nossa área.

Por fim, meu pedido especial a você que me lê: associe-se. Somente com associados uma entidade pode ajudar profissionais, empresas e todo o mercado a prosperar.

William Cassemiro é o criador da Translators101. Ex-diretor e ex-presidente da Associação Brasileira de Tradutores e Intérpretes, Abrates, de 2014 a 2018.

Tradutor profissional de inglês para português, com Bacharelado em Letras pela Universidade de São Paulo.