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BLISS Talk

Os sete pecados capitais no mundo da tradução

Por: Roberta Aquino, Transmaster Traduções

O setor de serviços linguísticos está sempre cheio de oportunidades. No mês de agosto, a BLISS apresentou um Webinar com o Renato Beninatto, da Nimdzi Insights, que disse exatamente isso. Qualquer empresa, de qualquer porte e em qualquer setor que deseje negociar no mercado internacional precisa se comunicar, e a maior parte dessa comunicação só é possível por meio da tradução e da interpretação. Ou seja, de profissionais como nós.

E, para entrar em um mercado, ter sucesso nele e continuar relevante, qualquer empresa também precisa estar sempre atenta às mudanças e novidades e, especialmente hoje, às necessidades dos seus clientes.

Você já parou para pensar que tudo isso vale também para os profissionais autônomos, como tradutores, revisores e intérpretes? Ou seja, para você?

Existem vários caminhos para se especializar, aumentar seu conhecimento tecnológico e cultural e conquistar novos clientes. E tudo isso é essencial. Mas, quando trabalhamos do lado do gerenciamento de projetos, vemos uma lacuna perceptível de habilidades básicas que são essenciais para que um profissional de serviços linguísticos possa realmente se destacar e ganhar a confiança dos clientes e um nome no setor. E, claro, como consequência disso, conseguir uma receita à altura.

Essas lacunas parecem ter duas origens. No caso dos profissionais que já iniciaram suas carreiras como freelancers e, portanto, sempre trabalharam sozinhos em casa, falta a vivência em um ambiente mais dinâmico, onde o aprendizado pode ser muito mais rico e completo. As operações de uma agência de tradução geralmente incluem várias posições, de tradutores e revisores até coordenadores ou gerentes de projetos, especialistas em controle de qualidade, pessoal de DTP e engenheiros. Todas essas pessoas têm algo a acrescentar e conhecimentos que podem facilitar a compreensão de pontos específicos das tarefas de outras posições. E essa convivência pode ser uma verdadeira universidade.

Veja que eu disse duas vezes “pode ser”. Por quê? Porque a outra origem para as lacunas de habilidades geralmente é a falta de treinamento adequado, ou até o treinamento incorreto, em empresas nas quais não há o cuidado ou o tempo dedicado ao desenvolvimento dos profissionais, com métodos de orientação e feedback que possam servir de base para um futuro de sucesso.

Seja qual for a origem do problema, o resultado é o mesmo: o surgimento de certos vícios que acabam se perpetuando no trabalho de um profissional e que podem ser desgastantes tanto para gerentes de projetos quanto para revisores e, consequentemente, se transformar em um verdadeiro tiro no pé para quem deseja ter um futuro promissor nesse mercado.

Resumi a seguir os sete “vícios” mais comuns que, curiosamente, têm sido cada vez mais frequentes:

 

 

  1. Não confirmar o recebimento de e-mails de projetos. É muito frustrante para um PM, que geralmente lida com vários tradutores e projetos todos os dias, ter que confirmar com cada profissional se um e-mail realmente chegou ao destino. Um simples “Recebido” já resolve tudo e demonstra a agilidade do tradutor em atender ao cliente.
  2. Não ler e confirmar todas as instruções e arquivos do hand-off logo após o recebimento. Deixar para abrir arquivos e referências na hora de começar o trabalho pode causar atrasos e render uma bela dor de cabeça. É importante conferir o mais cedo possível se todo o material mencionado no e-mail ou na notificação realmente foi enviado. Existe sempre a possibilidade de que anexos sejam perdidos pelo caminho ou até esquecidos, e o PM nem sempre está no mesmo fuso horário que os tradutores e revisores, então a resposta pode chegar só no dia seguinte e prejudicar todo o cronograma.
  3. Deixar para fazer o trabalho em cima da hora. Nunca se sabe que problemas podem acontecer ao longo de um projeto, principalmente quando se lida com grandes volumes. De um projeto que acaba sendo mais complexo do que o esperado até uma pane no computador, um problema na conexão de dados ou uma queda de energia, inúmeros eventos podem fazer com que se perca um prazo quando não há uma “folguinha” no cronograma.
  4. Não comunicar rapidamente eventuais problemas e dúvidas. É mais comum do que se imagina que os tradutores não comuniquem problemas ou dúvidas, a não ser que eles sejam “show-stoppers”, ou seja, a menos que o trabalho seja totalmente impossibilitado. Instruções que não estão claras ou que nem foram fornecidas, quando deveriam ter sido, devem ser resolvidas com o PM o mais rápido possível.
  5. Enviar queries só ao final do projeto (ou não enviar query nenhuma). Esse é um dos vícios mais disseminados. Imagine que um tradutor trabalhe em um projeto durante uma semana, sem dar um pio. No dia da entrega, surpresa! Ele manda uma planilha com 20 queries, a maioria delas de termos que aparecem centenas de vezes no original e cuja alteração pode gerar um belo retrabalho.
  6. Inexperiência/preguiça na hora de fazer pesquisas. O PM atento nota facilmente quando o tradutor não parou para fazer uma pesquisa importante que levasse o contexto em consideração. Os dois motivos mais frequentes para isso são, visivelmente, a falta de experiência e de jogo de cintura para fazer pesquisas com eficiência e, o pior deles, a pressa em tocar o projeto em frente para produzir mais.
  7. Medo de usar as ferramentas. Esta é uma questão que, em minha opinião, tem bastante a ver com o caráter “solitário” do trabalho de um freelancer. Embora hoje seja possível encontrar praticamente tudo na Internet, algumas pessoas têm mais facilidade de aprender vendo e fazendo. Mas, quando se trabalha sozinho, isso nem sempre é possível. A solução é usar seu lado explorador. Todo software tem uma área de configurações. E ela não morde! Entender as configurações e alterá-las de forma a aproveitar ao máximo as funcionalidades é parte do trabalho, também. Além do mais, cada um tem suas preferências pessoais na hora de trabalhar, e as melhores ferramentas têm recursos que permitem a sua adaptação. Então, por que não os utilizar? Se algo não der certo, é só voltar atrás. Fácil!

Por fim, se você não está só de passagem pelo universo dos serviços linguísticos e quer se manter relevante nele, avalie seus métodos de trabalho e busque sempre aprimorá-los. Se precisar, peça ajuda a pessoas experientes (e competentes, é claro) e pense nas medidas que pode tomar para não cometer esses pequenos “pecados” e acabar caindo no esquecimento dos seus clientes.

Graduada em Tradução e Interpretação pela Faculdade Ibero-Americana em 1991, trabalha desde 1993 na área de tradução e localização. Começou como tradutora freelancer para o setor de TI e tecnologia e trabalhou como coordenadora de localização de software de ERP na PeopleSoft do Brasil. Também fez parte do departamento de controle de qualidade da Lionbridge no Brasil e, hoje, é uma das sócias da Transmaster Traduções, empresa de localização de São Paulo. Por ter atuado nas mais variadas posições dentro do setor, Roberta tem um vasto conhecimento de todos os processos envolvidos em um projeto de localização e considera o aprendizado e a especialização contínuos como fundamentais para uma carreira de sucesso.