Registrations are open for the first conference hosted by BLISS
13 de julho de 2023Takeaways from the First International BLISS Conference
31 de agosto de 2023Registrations are open for the first conference hosted by BLISS
13 de julho de 2023Takeaways from the First International BLISS Conference
31 de agosto de 2023BLISS Talk
O que se espera de um(a) Language Lead e o que Language Leads esperam de você
Por Mariana Ciocca Alves Passos (ServiceNow)
Minha carreira de tradução começou como tradutora autônoma inglês-português ainda durante a faculdade. A flexibilidade da vida de freelancer foi essencial para os meus primeiros anos, já que também foi quando minha família começou a crescer. Quando me ofereceram a vaga de Language Lead na ServiceNow em 2021, eu até hesitei porque não queria perder essa flexibilidade. Mas, acabei vendo esse trabalho como uma ótima oportunidade de entender como funcionava a tradução do outro lado da cadeia de localização.
Quando digo que “me ofereceram a vaga”, parece que foi uma coisa fácil, mas creio que foi uma combinação de fatores que me ajudaram a conseguir o emprego. Por isso, queria falar sobre a minha transição de tradutora autônoma para Language Lead em uma empresa de software. Também vou dar algumas dicas do que uma empresa como a minha espera dos nossos parceiros de tradução.
O que é um(a) Language Lead?
O fluxo de trabalho e as obrigações de quem trabalha como Language Lead podem variar muito. Dentro de agência de tradução, as responsabilidades talvez sejam diferentes das que eu tenho como cliente final. Em geral, é a pessoa encarregada de tudo o que tem a ver com aquela língua. Na empresa onde trabalho, eu gerencio o glossário (não só do português brasileiro), o guia de estilo de localização, as avaliações de qualidade, participo de reuniões com as agências que traduzem, revisam e testam os nossos materiais e presto consultoria internamente para iniciativas de tradução que não passam diretamente pelo Departamento de Internacionalização. Cada empresa tem sua área específica do negócio, então eu tive que aprender o que a empresa faz, a mexer na plataforma que vendemos e como funciona a internacionalização e localização dentro da ServiceNow.
O que me ajudou nessa função?
Como tradutora, eu só tinha que entregar o material traduzido dentro do prazo. Conhecimento linguístico, todo mundo que trabalha com tradução precisa ter. Quando comecei a trabalhar como revisora, desenvolvi a habilidade de justificar minhas escolhas: não bastava só apontar o que estava errado, tinha que explicar o motivo. Essa habilidade é essencial para o meu trabalho e ela não aparece da noite para o dia: vem de anos de experiência. Hoje, ainda tenho que explicar para a minha gerência por que devemos corrigir uma tradução em toda a memória de tradução (que contém seis milhões de palavras), pensando também se o custo e o esforço em horas cabem no nosso orçamento e no cronograma do produto.
A capacidade de comunicação com públicos diferentes também é importantíssima. A empresa tem 22 mil funcionários. Nossos programadores não entendem a complexidade do fluxo de localização da empresa. As agências que traduzem e testam o nosso software não entendem a complexidade do nosso processo de desenvolvimento do produto. E eu estou ali no meio, muitas vezes tendo que explicar um lado para o outro sem usar jargões ou terminologia específica. É difícil falar de tradução sem falar de TMS, CAT tool, TM!
Um diferencial para mim foi ter experiência com teste de software/aplicativos para celular. Quando comecei o trabalho voluntário para o YouVersion (app da Bíblia), achei que não aprenderia nada novo. Também não era um requisito para a vaga de Language Lead, mas hoje eu uso essa habilidade toda semana na ServiceNow. Trabalho voluntário é uma ótima forma de conhecer outras áreas da localização.
O que esperamos dos parceiros de tradução?
Nem todo cliente final tem um departamento dedicado à localização. Outras empresas talvez entreguem todos os passos do processo para agências e parceiros de tradução: extração do texto, criação de projetos no sistema, gestão dos projetos, tradução, revisão, inclusão do texto traduzido no código do produto, teste linguístico na interface traduzida e correção de erros.
Na ServiceNow, precisamos de tradução, revisão e teste linguístico, porque temos uma equipe que cuida de toda a parte de engenharia de localização. Oferecemos nosso produto em 24 idiomas, então preferimos lidar com empresas de tradução que ofereçam mais (ou todos os) idiomas.
Tradução correta é a expectativa de todo cliente. Entendemos que, com a complexidade do nosso produto, nem tudo sai certo da primeira vez. Mas, quando algo sai errado, esperamos maturidade para reconhecer erros e corrigi-los. Prazo é muito importante para nós, porque a localização está presa no ciclo de desenvolvimento do produto. Atenção a instruções é essencial. Se as instruções não foram claras, façam perguntas para esclarecer. Isso vale para todos os níveis de comunicação: entre a minha equipe e os gerentes de projeto da agência, entre Language Leads (eu e a da agência), entre gerentes de projeto da agência e tradutores etc.
Nem todo tradutor freelancer quer entrar para o mundo corporativo da tradução e localização. Eu tentei aproveitar todas as oportunidades para explorar áreas e serviços diferentes dentro da área de tradução e localização quando ainda era freelancer. Essas experiências pareciam pequenas na época, mas me ajudaram a ter uma caixa repleta de ferramentas quando me ofereceram esse trabalho de Language Lead. Saber como funciona o processo na perspectiva do tradutor também me ajuda hoje. Meu conselho é sempre tentar coisas novas e continuar refinando o conhecimento e as aptidões que você já tem. Conhecimento linguístico, boa comunicação e gestão das suas tarefas são habilidades que sempre serão relevantes tanto do lado de quem oferece o serviço (tradutores, revisores e agências) quanto de quem compra (cliente final).
Formada em Letras (português e inglês) pela USP, Mariana Ciocca Alves Passos começou sua carreira de tradução ainda na faculdade. Ela mora na Irlanda desde 2010 com o marido e as três filhas. Depois de mais de 10 anos trabalhando como tradutora e revisora freelancer, ela agora é Language Lead na ServiceNow, uma empresa de PaaS (Platform as Service). Ela também é integrante do Comitê Executivo da Associação Irlandesa de Tradutores e Intérpretes (Irish Translators’ and Interpreters’ Association – ITIA). |